UMA EXPLICAÇÃO LITÚRGICA PARA OS DIAS DA SEMANA SANTA
2. HOSANNA: Domingo de Ramos – 10 DE ABRIL DE 2022
O sábado de Lázaro, do ponto de vista litúrgico, é a pré-festa do Domingo de Ramos — a entrada de nosso Senhor em Jerusalém. Ambas as festas têm um tema comum: o triunfo e a vitória.
O sábado revela o Inimigo, que é a morte; o Domingo de Ramos anuncia o significado da vitória como o triunfo do Reino de Deus, como a aceitação pelo mundo de seu único Rei, Jesus Cristo. Na vida de Jesus, a entrada solene na Cidade Santa foi o único triunfo visível. Até aquele dia, Ele sempre rejeitou todas as tentativas de glorificá-Lo. Mas seis dias antes da Páscoa, Ele não apenas aceitou ser glorificado, Ele mesmo provocou e organizou esta glorificação. Ao fazer o que o profeta Zacarias anunciou: “Eis que seu rei está chegando, sentado em cima de um potro de asno”! (Zacarias 9:9), Ele deixou claro que queria ser aclamado e reconhecido como o Messias, o Rei e o Redentor de Israel. E as narrativas evangélicas enfatizam todas estas características messiânicas: as palmas e os Hosana, a aclamação de Jesus como o Filho de Davi e o Rei de Israel. A HISTÓRIA DE ISRAEL ESTÁ CHEGANDO AO SEU FIM, TAL É O SIGNIFICADO DESTE EVENTO. O objetivo dessa história era anunciar e preparar o Reino de Deus, o advento do Messias. E agora ela está cumprida. Pois o Rei entra em sua Cidade Santa e nele todas as profecias, todas as expectativas se cumprem. Ele inaugura Seu Reino.
A Liturgia do Domingo de Ramos comemora este acontecimento. Com ramos de palmeira em nossas mãos nos identificamos com o povo de Jerusalém, junto com eles saudamos o humilde Rei, cantando Hosana a Ele.
Mas qual é o significado disso hoje e para nós?
A CIDADANIA NO REINO
Primeiro, é a nossa confissão de Cristo como nosso Rei e Senhor. Esquecemos tantas vezes que o Reino de Deus já foi inaugurado e que no dia do nosso batismo fomos feitos cidadãos dele, prometemos colocar nossa lealdade a ele acima de todas as outras lealdades.
Devemos sempre lembrar que, durante algumas horas, Cristo foi realmente Rei na Terra, neste nosso mundo. Por algumas horas apenas e em uma só cidade. Mas, como em Lázaro, reconhecemos a imagem de cada homem, nesta única cidade reconhecemos o centro místico do mundo e, de fato, de toda a criação. Pois este é o significado bíblico de Jerusalém, o ponto focal de toda a história de salvação e redenção, a cidade santa do advento de Deus. Portanto, o Reino inaugurado em Jerusalém é um Reino universal, abrangendo em sua perspectiva todos os homens e a totalidade da criação…
Durante algumas horas — no entanto, estes foram o momento decisivo, a hora derradeira de Jesus, a hora do cumprimento por Deus de todas as Suas promessas, de todas as Suas decisões. Chegou ao fim de todo o processo de preparação, revelado na Bíblia, foi o fim de tudo o que Deus fez pelos homens.
E assim, esta curta hora do triunfo terreno de Cristo adquire um significado eterno. Ela introduz a realidade do Reino em nosso tempo, em todas as horas, faz deste Reino o significado do tempo e seu objetivo final. O Reino foi revelado neste mundo e a partir daquela hora; sua presença julga e transforma a história humana…
E quando, no momento mais solene de nossa celebração litúrgica, recebemos do sacerdote um ramo de palma (ou são abençoados os ramos que temos em nossas mãos), renovamos nosso juramento ao nosso Rei, confessamos Seu Reino como o sentido e o conteúdo final de nossa vida.
Confessamos que tudo em nossa vida e no mundo pertence a Cristo e nada pode ser tirado de seu único verdadeiro Proprietário, que não há área da vida na qual Ele não deva governar, salvar e redimir. Proclamamos a responsabilidade universal e total da Igreja pela história humana e defendemos sua missão universal.
A Via Sacra
Mas sabemos que o Rei que os judeus então aclamaram e que nós aclamamos hoje, está a caminho do Gólgota, da Cruz e da sepultura. Sabemos que este pequeno triunfo é apenas o prólogo de Seu sacrifício.
OS RAMOS EM NOSSAS MÃOS SIGNIFICAM, PORTANTO, NOSSA PRONTIDÃO E VONTADE DE SEGUI-LO NESTE CAMINHO SACRIFICIAL, NOSSA ACEITAÇÃO DO SACRIFÍCIO E DA AUTO DENEGAÇÃO (autonegação) COMO O ÚNICO CAMINHO REAL PARA O REINO.
E finalmente, ESTES RAMOS, esta celebração, PROCLAMAM NOSSA FÉ NA VITÓRIA FINAL DE CRISTO. Seu Reino ainda está escondido e o mundo o ignora. Ele o vive como se o evento decisivo não tivesse ocorrido, como se Deus não tivesse morrido na cruz e o homem nEle não tivesse ressuscitado dos mortos. Mas nós, cristãos, acreditamos na vinda do Reino no qual Deus será tudo em todos e Cristo o único Rei.
Em nossas celebrações litúrgicas, lembramo-nos de acontecimentos do passado. Mas todo O SIGNIFICADO E PODER DA LITURGIA É QUE ELA TRANSFORMA A LEMBRANÇA EM REALIDADE. No Domingo de Ramos, esta realidade é nosso próprio envolvimento, nossa responsabilidade com o Reino de Deus.
Cristo não entra mais em Jerusalém, Ele o fez de uma vez por todas. E Ele não precisa de nenhum “símbolo”, pois Ele não morreu na cruz para que possamos eternamente “simbolizar” Sua vida. Ele quer de nós uma aceitação real do Reino que Ele trouxe até nós. E se não estivermos prontos para cumprir o juramento solene, que renovamos todos os anos no Domingo de Ramos, se não quisermos fazer do Reino de Deus a medida de toda a nossa vida, sem sentido é a nossa comemoração e sem sentido os ramos que levamos para casa da Igreja.
REFERÊNCIA:
A Liturgical Explanation for the Days of Holy Week by The Very Rev. Alexander Schmemann, S.T.D. Professor of Liturgical Theology, St. Vladimir”s Seminary,
conforme <holy_week-a_liturgical_explanation.pdf (antiochian.org)> – (tradução DeepL)